A popularidade do termo “detox digital” tem aumentado desde 2017, como mostra o gráfico abaixo, de tendências do Google. Por isso, não é surpresa que muitos de nós tenhamos pensado em deletar as redes sociais ou não usar nossos celulares como uma possível solução para nos sentirmos mais presentes nas relações, para encontrar mais tempo para outras atividades, para aumentar o foco no trabalho e nos estudos, entre outras atividades que parecem mais difíceis com o ritmo frenético da modernidade.
De acordo com a Time Magazine, uma pessoa olha em média 46 vezes por dia para o celular. E um estudo feito pela Harvard Business School com 1.600 gerentes e profissionais descobriu que a maioria deles usam o celular uma hora depois de acordar e uma hora antes de dormir, além de verificar nos finais de semana e durante as férias. 44% disseram que sentiriam “muita ansiedade” se perdessem o telefone e não pudessem substituí-lo por outro em uma semana.
Embora pareça que um “detox digital” possa resolver problemas, o que acontece quando tentamos nos afastar das redes sociais e das telas no geral parece justamente o contrário: ansiedade por sentir que esta perdendo algo (FOMO), solidão e outras sensações desagradáveis podem vir á tona. Uma pesquisa publicada na revista Perspectives in Psychiatric Care em 2019 mostrou que a abstinência de telas não necessariamente resulta em benefícios. Alguns dos participantes do experimento relataram mal humor e insatisfação com a vida após o detox, além de se sentirem mais solitários, pois não substituíram a socialização online por interações presenciais, por voz ou e-mail, como os pesquisadores esperavam.
Outras de pesquisas mostraram que o consumo passivo de informações nas redes pode levar a comparações excessiva, depressão e ansiedade. Já a participação ativa, não só publicando conteúdo, mas por meio de comentários e conversas, aumenta a sensação de conexão social, aumenta as emoções positivas e o bem-estar.
Pelo jeito, a solução não é eliminar de vez as redes, mas sim reduzir e reeducar nossa maneira de agir, usando a tecnologia principalmente para facilitar o dia a dia. O minimalismo digital pode ser uma solução. Conceito popularizado pelo livro Digital Minimalism de Cal Newport, essa filosofia convida o leitor a questionar quais ferramentas digitais (e comportamentos em torno dessas ferramentas) agregam valor à sua vida – e o encoraja a abandonar aquelas que não agregam. O livro fornece um passo a passo para você repensar o uso das ferramentas, não necessariamente as excluindo completamente, mas te instigando a encontrar formas de alinhar seus desejos ao uso das ferramentas, pois todas elas têm seus benefícios, apesar dos problemas que podem vir junto.
Deixar de seguir marcas para gastar menos, instalar uma extensão no browser para tirar os vídeos que te distraem no painel do YouTube, deletar os aplicativos de “entretenimento” do telefone e só usá-los no computador… são inúmeras possibilidades de customização que te ajudam a evitar o sentimento de entorpecimento das redes sociais. Outra boa prática é ativar os alertas do celular que indicam quanto tempo estamos em tela e quais aplicativos usamos mais, inclusive é possível fazer isso também no computador.
Há um tempo, tenho tentado algumas coisas:
Ideias para Reeducação Digital
- Dormir com o celular fora do quarto: Isso evita que eu fique vendo o celular antes de dormir ou ao acordar e também me ajuda a não ficae enrolando na cama quando acordo, já que quando o despertador do celular toca para eu acordar, tenho de levantar e ir até o escritório para desligá-lo.
- Ver primeiro com os olhos e depois com a tela: Um amigo me contou que, quando chegou ao Machu Picchu, tudo estava tão lotado que ele colocou o celular na frente dele para ver o lugar pela tela do celular antes de olhar com os próprios olhos. Posso parecer meio conservadora, mas não achei essa uma experiência legal. Entendo que às vezes as pessoas que trabalham com redes sociais precisam priorizar seu público e abdicar de uma experiência própria. No entanto, esse não é o meu caso. Não preciso postar algo em primeira mão para um público. Quando vou a shows, museus, viagens ou qualquer lugar onde normalmente tiramos fotos e fazemos vídeos, procuro olhar primeiro com meus próprios olhos, apreciar, pensar no que estou vendo e sentindo, e só depois tirar uma foto.
- Dia sem celular: Praticar um dia inteiro sem celular, ainda que seja mais difícil com informações online, como tickets e credenciais. Procurar ficar pelo menos algumas noites por semana sem mexer no celular, deixar dentro da bolsa, carregando na base, virado de tela para baixo.
- Dormir com o celular fora do quarto onde durmo. Há alguns anos eu conseguia ficar um dia inteiro ou mais sem celular, hoje com quase todas as informações online, inclusive tickets e credenciais, acho mais difícil contar assim um dia corrido sem pegar o celular por nenhum instante. Ainda assim, procuro ficar pelo menos algumas noites por semana sem mexer no celular, deixo dentro da bolsa, carregando na base, virado de tela pra baixo… faço um jogo comigo mesma de não encostar nele nem para ver o horário, tentando assim demonstrar pro meu cérebro que o celular não é imprenscindível.
Esses são só alguns dos muitos passos que podemos dar para nos ajudar a ter um relacionamento mais saudável com as telas, não existe uma solução única para o uso consciente da tecnologia, mas existem várias maneiras de encontrar um equilíbrio saudável entre uso e descanso e lembrar que não precisamos nos desconectar completamente para ter um relacionamento saudável com a tecnologia.