“Minimalismo” e o “Minimalismo já” são dois documentários no netflix feitos por três americanos: Joshua e Ryan, mais conhecidos por seu site “The Minimalists” e Matt D’avella, um film maker, diretor e youtuber.
A narrativa dos dois filmes fica em torno da vida do Joshua e do Ryan, dois self made man, homens que vieram de origem simples, não fizeram faculdade, mas que se deram bem na escalada corporativa, alcançando bons cargos e salários até perceberem que, mesmo tendo alcançado reconhecimento e dinheiro, não eram felizes.
“Minimalismo” retrata uma tour de palestras e entrevistas que os minimalistas ficeram pelos EUA para instigar sua platéia a repensar hábitos de consumo. “Minimalismo já” transita principalmente pela história pessoal dos protagonistas, também na temática do acumulo de bens e na redefinição do que é sucesso. Ambos os filmes são muito voltados á cultura americana e tem uma crítica velada ao estilo de vida corporativo.
O primeiro documentário é o meu preferido, pois há participações bacanas, entre elas:
- o escritor do blog Zen Habits, Zen Babauta
- a mulher que “inventou” o armário capsula ou projeto 333, Courtney Carver
- e até o polêmico neurocientista, Sam Harris.
Esse filme também fala um pouco do movimento das Tiny Houses e tenta mostrar que todos esses estilos de vida diferentes, relacionados ao minimalismo, conversaram com pessoas de “todos os tipos” e qualquer estilo de vida prévio.
Ambos os filmes, porém, tem um recorte de classe bem claro, a classe média branca americana, seja ela meio falida ou bem de vida. E, me parece que o segundo documentário veio pra sanar duas críticas principais ao primeiro:
- uma mais pessoal: de que Joshua e Ryan eram homens brancos privilegiados
- e outra para atentar que o minimalismo, se não tiver uma reflexão, vira somente uma outra forma de consumir.
Esse segundo filme então tem menos da narrativa – o mundo corporativo não vai te deixar feliz – e mais da narrativa – mesmo pessoas pobres com famílias disfuncionais poderiam se beneficiar do minimalismo – muito porque a mãe do Joshua era alcoólatra e, de fato, ele teve adolescência e infância bem tristes por conta disso.
Porém, para minha visão brasileira, diria que as pessoas menos favorecidas do filme são pobres não imigrantes (com todos benefícios que o estado americano fornece), o pobre que é quase uma classe média baixa para o brasileiro.
Claro que não é uma questão de quem esta menos fodido, mas realmente os filmes parecem muito voltados aos americanos brancos, não descendentes diretos de imigrantes que, na minha concepção, teriam dificuldades a mais tanto financeiras quanto sociais: para arranjar emprego, ter credibilidade social ou conseguir crédito para empreender, não ser preso por qualquer besteira (lembrando que os EUA tem a maior população carcerária do mundo), entre outras questões.
Enfim, sobre o minimalismo em si abordado no segundo filme, olhando pela vida que os protagonistas demonstram levar, minimalismo não me parece totalmente sobre simplicidade ou frugalidade, mas uma forma de consumo diferente, ainda bem inserida dentro do modo capitalista: fazer curadoria de produtos, comprar o melhor ou o mais barato, ter aqueles objetos desejo de consumo, viver de forma mais individualista, almejar chegar num ponto da carreira com mínimo de coisas que você não quer fazer – o que não é muito característico de uma sociedade mais colaborativa, por exemplo.
~breve desabafo
Desse segundo filme, esperava que abordassem mais as questões ambientais e sociais do hiperconsumo ou até as questões de saúde, saúde mental decorrentes dos endividamentos, do excesso de informação e até do acúmulo de coisas em si. Também imaginei que fossem tirar um pouco o peso de ser um super-indivíduo lutando contra a acorrente do consumo e trazer o conceito de minimalismo para um cenário de comunidade ou de ativismo até.
Depois de 4 anos entusiasmada com o conceito como se ele fosse aflorar em algo mais, hoje estimo que a palavra minimalismo não vai representar nada além do que essa perspectiva superficial-capitalista. E confesso que estou um pouco cansada dessa visão do minimalismo: pessoas com quase 40 anos mostrando que não é preciso viver como “todo mundo” (como exemplo os livros do fumio e da cait).
Porém, entendo que talvez tenha sido importante para uma geração e um tempo, ouvir essas mensagens e ainda acredito que o minimalismo serve muito bem na vida de qualquer pessoa como uma fase de auto conhecimento e de auto experimentação, até onde cada um consegue, quer ou vê sentido em levar essas práticas, porém, é algo muito pessoal.